Reino sem princesa


As ruas continuam grandes, as estradas continuam longas e intermináveis, e as casas continuam grandes e diferentes, espaçadas com o à vontade de uma vaca num vasto pasto, no grande território californiano. De madeira e gesso, com cores ténues que podem ter grandes variações de tom, janelas generosas, quintais gigantes, jardins arranjados e garagens enoooormes (quase como labaredas). O tempo continua bom (isto segundo os locals, que dizem que está a ser um outono bem quente), embora o sol só mostre a sua amizade calorosa nas horas em que está mais vertical, e as manhãs e fins de tarde tragam temperaturas geladas, humidade e até nevoeiro.

Os dias correm. Acelerados e sem pausas. Passam depressa e são extremamente agitados. Todos os dias se fazem muitas coisas novas, e se aprendem outras tantas. Todos os dias se conhecem pessoas novas, que fazem coisas diferentes, em sítios diferentes, de forma diferente. Todos os dias conheço mais e melhor a empresa e as mentes que levam continua e incessantemente para a frente ideias inovadoras... e de sucesso. São mentes muito mais modestas do que o que seria de esperar, e incansáveis no capítulo do imaginário. Existe no ar deste grande edifício um cheiro a ideias frescas saltedas com um pouco de loucura e um cheirinho de inconsequência gerado em torno de um desporto que adoro - gosto disto!

Mas é no final destes longos dias de horários californianos adubados com temperaturas instáveis e recheados com molhos multi sabores, que reconheço sentir falta dos ares portucalenses, do meu mar, dos mais próximos amigos. A solidão sentida nas longas noites passadas atrás do monitor começam a tornar-se bastante incómodas, repetitivas e cansativas. As imagens de casa cheiram bem, as vozes de quem está mais próximo sabem a pouco.

Creio que nas palavras dos antigos o termo se chamava: Saudade.

Frase do Dia

" Acredita que o mundo não acaba se nós pararmos,
mas nós podemos acabar, e não vai ser isso que vai parar o mundo! "

by Hugo Mckoy

Ou então não.

"Throughout The Centuries There Were Men
Who Took First Steps Down New Roads
Armed With Nothing But Their Own Vision"
by Ayn Rand

"Desde os exórdios da humanidade, individuos munidos
com nada mais que a sua estupidez natural
enveredaram por caminhos nunca antes trilhados,
e acabaram por se desnortear e levar a cabo
infindas expedições que os levaram a
lugares que não interessavam a mais ninguém"
por Hugo Mckoy

...ou então não.

Land of oportunities


Existem coisas curiosas em todas culturas. Existem coisas interessantes em todos os sítios. Existem coisas únicas em cada país. E eu descobri mais uma.

Por cá existem muitas diferenças, umas assustadoras, outras assustadoramente dissimuladas. No fundo, falamos de um país com um crescimento acelerado que sobreviveu vivo e a alta velocidade durante décadas, e isso tem o seu preço. O crescimento da economia tem sempre repercurssões na sociedade. Infelizmente nem sempre positivas.

No estômago de um gigante que não pára de crescer, o trabalho cresce exponencialmente. Criam-se muitos postos de trabalho, e como tal muitas casas, e como tal muitas famílias, e como tal muitas escolas, igrejas, restaurantes, lojas, clubes de bowling, e ruas, estradas, auto estradas, avenidas, parques de estacionamento... e placas de sinalização.

Isso, placas de sinalização. Quando me apercebi do fenómeno, lembrei-me imediatamente da velha "classificação" do novo continente - Land of oportunities". Isto porque imaginei que alguém que se dedique pura e simplesmente a fazer placas, desenhar, recortar, pintar, inventar... tem futuro nesta terra.

Para todo o lado, por todo o lado, em todas as direcções, lá estão elas - placas e mais placas e mais placas de sinalização. Umas avisam, outras explicam, outras indicam e outras são hilariantes. São de plástico, de metal, são grandes, médias, assim-assim e pequenas. São coloridas, muito coloridas, ou então nem por isso. Mas são muitas, imensas, por todo o lado e em todo o sítio. Porque tudo e todos têm de ser avisados, existem placas para nos dizer que as rochas são escorregadias, que não podemos levar o cão para a praia, para nos indicar a direcção da cidade mais próxima e para avisar que, naquele sítio, existem cabos debaixo do solo, e por isso devemos avisar os senhores da placa do lado antes de começarmos as escavações. Existem placas que afixam horários de funcionamento, placas que nos dizem o que é proibido e outra, mesmo ao lado, que no diz quanto vamos pagar se não cumprirmos a lei. Existe até uma placa que nos diz que temos de atravessar na passadeira, e outra logo abaixo que indica por onde devemos seguir. Existem até placas que nos avisam que à noite a visibilidade é menor... não vamos nós cair ao mar.

Uma coisa é certa, nesta terra quem não lê não sobrevive.