A CIDADE-ROMÃ



Sempre ouvi dizer que devemos sempre regressar aos locais que nos fizeram anteriormente felizes. Voltei em 2011 à cidade andaluza que mais admiro e recordo, que mais boas sensações me provoca e que sempre recordo com alguma melancolia.

A cidade da Romã (Granada, em castelhano), é actualmente uma das importantes cidades da Andaluzia, região Sul da vizinha Espanha. Com a sua imensa herança árabe, esta é uma cidade viva, na verdadeira acessão da palavra – a população tem crescido nos últimos anos, o aglomerado urbano é agora bastante extenso. Depois de atravessarmos a densa muralha de novos edifícios de habitação, negócios e mesmo alguma indústria e muito comércio… eis que se abre a verdadeira “romã”. Muitos edifícios que remontam aos anos 40 e 50, muitas igrejas e praças, e um sem-fim de construções de origem árabe mostram-nos com muita elegância e alguma mística, que por estas paragens muitas culturas se fizeram valer, e deixaram claramente a sua marca.

Uma dessas marcas são os ainda famosos banhos árabes. Uma tradição com muitas centenas de anos, que subsiste não apenas nos panfletos turísticos da região, mas também nas pessoas, nos hábitos e vivências locais. É possível encontrar estes banhos em vários hotéis, e existem locais onde sob marcação podemos aceder a esta experiência. Altamente recomendável, fazer parte deste mundo subterrâneo, onde as águas, vapores, cores, cheiros e sons são tão únicos, é sem qualquer dúvida, uma experiência a repetir. Banhos Hammam - estas foram horas intensas nas sensações, e fortes para o corpo – águas quentes, muito quente e frias, massagem e chá… de forma aleatória e de acordo com “a vontade”.

O facto de ser local de residência de várias instituições universitárias de grande importância nacional, faz com que se sinta no ar uma cultura jovem, de alguma forma efervescente nas ideias e nas atitudes – e que se mistura com a população local que embora seja sem dúvida alguma, orgulhosamente andaluza, deixa no ar um cheiro a cultura, hábitos e crenças árabes. Esta, como outras misturas, faz desta gente uma excepção, torna-os de alguma forma únicos, especiais. É fácil encontrar gente simpática, hábil na comunicação e até aberta ao diálogo com os visitantes, na sua maioria não falantes da língua local.

Alhambra. Esta é a incontornável maravilha que Granada exibe no alto, esplendorosa e imponente. Trata-se de uma sucessão de construções, muralhas, palácio, castelo e muitos e variados jardins, em que em cada canto se descobrem novas cores, flores, pequenos lagos, sebes ou corredores e escadas em ambientes que variam entre o romântico e o militar. Um local de culto, imperdível para quem visita a cidade, e obrigatório para quem tem a pretensão de conhecer a cultura e história andaluza.

E por falar em incontornável, há que mencionar as famosas tapas de Granada. Sem ser marcadamente diferentes das tapas que podemos encontrar um pouco por todo o lado em território espanhol, as tapas de Granada são diferentes. Em qualquer lugar da cidade, desde que exista um balcão e um ou dois bancos, existem tapas. E como é habitual existem menus de tapas. Mas a melhor e mais genuína experiência que posso recomendar nesta cidade, é pedir apenas uma “caña” num destes locais. Junto com a sua cerveja, virá uma pequena tapa, que é sempre uma surpresa. E é assim, cerveja após cerveja, tapa após tapa, e sem pedir, poderá saborear as mais diferentes formas de prazer dentro de um pequeno prato.

Deixei a “cidade-romã” mais uma vez, mas desta feita com uma sensação mais familiar – vi mais, vi com mais tempo, vivi com mais intensidade e com mais “olhos” do que antes. Sinto que agora faz mais parte de mim, e da minha própria história. Se sinto vontade de voltar? É claro que sim!!!!

Tirol




MONTANHAS. Montanhas imensas, perdidas entre vales enormes que fazem aparecer novas montanhas atrás de cada curva enrolada, cada rampa contorcida, cada escarpa cinzenta. São lindas as paisagens que se me apresentam a cada quilómetro, são extraordinárias as curvas das estradas, e a luz e contra-luz que se vê, sente e aprecia ao virar de cada cruzamento, ou desvio.

Sempre tive curiosidade e finalmente cá estou – no Tirol. Não se avistam “Heidis” por aqui, mas as paisagens carregam-nos ao colo de uma forma quase imediata – as cabanas da montanhas, as pastagens, as elevações gigante de terra com o seu pico branco e brilhante… e as vacas, cabras e outras personagens que se tornaram parte do nosso imaginário. (refiro-me neste parágrafo à geração que viveu as aventuras de Heidi e Pedro como se fossem suas, falo de quem ainda se lembra de ver séries fantásticas onde as armas, perseguições de automóveis e tiroteios ainda não eram obrigatórios…)

De tudo o que vi, dos mais de 1000kms de estradas, de estradinhas, de cidades e pequenas vilas, de passagens de alta montanha e de pontes sobre rios gelados e pequenas lagoas… Um local vai ficar colado na minha memória – arrisco a dizer – para sempre.

Lech é uma terrinha pequena, bem cuidada, arrumada e fantasticamente mantida. Cada casa, cada hotel, restaurante ou casa de hóspedes foi cuidadosamente “colocada” no local ideal. Não há por estas bandas as aberrações habituais dos locais ditos evoluídos, mas durante a minha visita, tive a sensação constante de estar entre seres muito inteligentes – afinal, sabem da importância de manter as coisas no seu lugar, de preservar o tradicional, de manter a maior harmonia possível com o meio que os rodeia, e de fazer tudo isto com uma naturalidade que apenas nos faz pensar (ainda mais) se existirão alguns seres desta linhagem pelas nossas localidades natais…

Um local lindo, único. Um sítio onde quero voltar, onde seria feliz certamente. Onde me senti, muito curiosamente, em casa.