A última do ano


A última do ano aconteceu sábado passado (justamente o último sábado de 2008). Como previsto as criaturas convidadas apareceram a horas (algumas anteciparam-se, mas ao contrário), e deram início ao desafio que se impunha: partir sem rumo, ir por onde mais lhes apetecesse, procurar novos trilhos e escapatórias aos caminhos mais rotineiros e habituais da zona, e tudo isto sem que a ameaça de temporal eminente os afectasse.

Embora não se tivessem registado quedas, ameaças ou mesmo impactos indesejados contra a mãe Terra e os seus por vezes agrestes elementos, há a relatar as dificuldades encontradas logo na primeira hora, em que os audazes se depararam com enooooormes barreiras de terra (pareciam labaredas), intransponíveis à primeira vista. Depois de baixar das montadas os "rangers" caminharam bravamente em frente, contornaram uma série de obstáculos naturais e outros menos (casas, pinheiros, inclinações estúpidas e desertos de areia solta), e conseguiram deixar para trás os largos pantanais de ervas daninhas fortemente enraizadas e canais de irrigação profundos e traiçoeiramente dissimulados na vegetação circundante. No entanto, a maior dificuldade estava para vir. Embora todos os medos se reunissem naquele último desafio, e porque dos fracos não reza a história, os "cavaleiros do apocalipse" levaram a cabo a árdua tarefa de, nas instalações dessa casa de tortura (leia-se Bar Havana) situada à beira-mar (leia-se costa da Península de Faro), e sob fortes ameaças de tempestade e outros males que a mãe natureza por vezes nos oferece, resistentes, de pé e corajosamente "colados" ao balcão do referido estabelecimento, ingerir doses industriais de um líquido de composição desconhecida (mas à base desse fruto silvestre tipicamente Algarvio, o medronho) que os levaria a enfrentar, apenas minutos depois, o restante percurso sem medos ou desculpas. Ai não.......
Vamos a factos: num total percorrido de trinta e três mil, novecentos e cinquenta e seis metros, com uma média horária de aproximadamente 17.3kms/hora e uma duração até ao momento não confirmada - "alguém olhou para o relógio?", os pedaladores viram a última oportunidade do ano de pôr à prova as suas capacidades ciclísticas cumprida.

Las Ramblas


Outubro. Mês de fim de estação, mês de início de inverno. Mês do meu aniversário e este ano, afortunadamente, mês em que consegui umas merecidas férias de início de época. Mala feita e aqui vamos nós - se vou ter pouco tempo de férias, que seja longe da rotina habitual.
O destino pareceu-me uma excelente mistura, quando o que procurava era um local diferente do usual, que não conhecia, relativamente acessível ao meu bolso e de fácil acesso, logisticamente falando. A tudo isto juntava-lhe ainda a pitada que faltava: ser uma "capital cultural" com imensa influência de artistas que me são especiais.


Que vida. Quanta vida emana das ruas, das estradas, das casas, das tascas, bodegas e restaurantes, bares, ruelas, feiras de rua e mercados. Que belos petiscos, que tapas, e que imperiais tão gulosas. Estas foram algumas conclusões logo após as primeiras horas da visita. As imensas ruas pejadas de gente de diferentes raças, credos e nacionalidades, o trânsito infernal de motos e bicicletas que mais parecia uma colmeia de tanta azáfama que os cobria... Edifícios históricos, grandes quer em dimensão, quer em valor religioso ou artístico, dispostos em longas avenidas onde os olhos se perdiam facilmente... tudo emanava imensa energia.


Barcelona seduziu-me, e fiquei fã. Trata-se de uma das mais interessantes cidades que conheço, quer pela sua vida, quer pelas sensações que me proporcionou. Majestosa na sua dimensão, alegre na sua vivência, e viva, muito viva. Gostei muito das pessoas, alegres,simpáticas e prestáveis. Mulheres deslumbrantes na sua aparência cuidada, e muita gente bonita um pouco por todo o lado. Um local que merece certamente uma visita futura.

Sam? Who the hell is Sam?



Uma visita há muito prometida, uma cidade que sempre me havia deixado curioso, e um sítio onde gostaria de ir antes de morrer. E eis que nos idos de Julho realizo esta vontade...

Praga mostrou-se um mundo diferente de fora para dentro. Ao sair do aeroporto avistam-se largos campos verdes, algumas máquinas agricolas e casas dispersas no horizonte que cedo se entrelaçam com edifícios espelhados que guardam a estrada de acesso à cidade, antevendo sinais de modernismo. Estradas rodeadas de campos verdes, edifícios modernos, e uma agitação moderada que nos deixa perceber que o ritmo de vida imposto é bem aceite pela população.

Em alguns dias calcorreámos as ruas, os jardins, os palácios, os monumentos, os bares de jazz e as cervejarias. Não é grande esta cidade, mas encerra em si a grandiosidade que só um sítio tão rico culturalmente nos deixa apreciar plenamente. Os monumentos sucedem-se, rua após rua, e as estátuas, pracetas e edifícios nobres espreitam a cada esquina. A beleza da arquitectura é inegável, e é um sítio onde sabe bem parar. Parar e saborear o clima, o ambiente, o desfilar de gente bonita, arranjada e bem disposta. Apreciar a cerveja fresca servida em copos grandes, e as salsichas com legumes envinagrados picantes, que nos obrigam a pedir mais uma cerveja. Sentar nas esplanadas e sorrir para o sol é algo que parece natural nesta terra. A língua estranha, enrrolada na sua fonética e imcompreensível para o comum tuga, ouve-se em burburinho, lá atrás, enquanto a fresca bebida desce rapidamente e nos traz ao paladar aquele agradável sentimento de bem-estar, a felicidade. Sam? Who the hell is Sam? Aqui respira-se a verdadeira europa, o "savoir-vivre" e a grandiosidade de espírito que só uma cultura rica em história nos pode dar.

O Moldava (Vltava, em checo), atravessa a cidade não como uma serpente, mas como um tapete confortável e bonito, que queremos que as nossas visitas vejam. As suas curvas são suaves e belas, e as muitas pontes que o atravessam ajudam a decorar esta pictoresca vista. Praga parece ter sido produzida por encomenda, construída com base nos caprichos de um rei poderoso e pessoa de bom gosto, a quem a beleza de cada canto importava. Neste largo rio de águas salobras navegam dezenas de barcos, todos transportam turistas que se deliciam com as imagens únicas que das suas margens se avistam. A cidade brilha em todo o seu esplendor, casa sobre casa, torre atrás de torre, telhados e janelas requintadamente decoradas sobresaem e mostram-se, orgulhosas da sua formosura, perante nós.

Uma experiênica a repetir. Um destino recomendável.

Gold Land


E eis que pela sexta vez me vejo na terra do dito tio - este que não sendo genuinamente meu, é de toda a gente, e assim, generalizo o termo, e torno ainda mais popular este laço familiar -visitei o nosso Tio Sam.

Neste estado a dimensão habitualmente exagerada das coisas ganha porporções épicas. A caminho da estância de destino atravessamos o "ten mile valley". Rodeado por monstros de pedra que se erguem de tal forma vertical, que nos dão a sensação de serem coisas vivas. Escarpas de rocha onde as árvores teimaram em crescer, e onde os mais aventureiros teimaram escavar. Avistam-se minas antigas, abandonadas e dispersas, como de fantasmas a quem já ninguém liga ou de quem ninguém foge.
Outrora a terra onde a febre do ouro atacou violentamente uma sociedade sedenta de riqueza e cega pela promessa de uma fortuna fácil, eis-me no estado do Colorado. Reinam as estradas largas, as auto-estradas de 3 e 4 vias, que se separam da faixa de rodagem contrária por largos metros de declive topográfico, por rochas, por pequenos aglomerados de árvores, e por insólitas escarpas de pedra. Muito tráfego, e junto a este rio de gasolina e cheiro a borracha, acompanham-nos sempre pequenos aglomerados de casas que nos deixam sonhar com o velho oeste, onde a construção de uma mina criava condições à existência de um pequeno bar, de um grupo de casas, e de uma estrada de terra por onde passavam os cavalos e as carroças com abastecimentos para os mineiros. Vejo ao longe um velho carril que espreita por uma escarpa, inacabado, como se o seu suicídio tivesse sido congelado pelo tempo. Três carruagens ferrugentas e muito velhas agrupadas à entrada da velha mina parecem manter entre si uma conversa sobre os bons velhos tempos, em que elas eram úteis e bem tratadas, oleadas e encarregues de trazer para o exterior os detritos de onde seria depois retirado o valioso minério.
Estamos mais uma vez num país moderno, que guarda as imagens da sua história recente, e que não tem medo de as usar.
Já na estância de Copper Mountain vemos um moderno e bem organizado complexo que faz as delícias dos amantes da neve durante os invernos, e que, com os seus quase 4000 metros de altura, deixa agora no relativo calor do verão, que os amantes do ciclismo de montanha se atrevam a descer violentamente os trilhos esculpidos pelas encostas desta colosal montanha.

Instinto Assassino


O que se passa nos dias de hoje nas nossas estradas....É por vezes assustador.
Com a vinda do verão, este vosso ferrenho e orgulhosamente Algarvio, sente na pele a presença de automobilistas vindos do além.
Com isto digo, ou quero dizer, além-fronteiras (as fronteiras do Algarve com o resto do pais já viram dias mais claros, pelo menos em termos geográficos, já que politicamente deixaram de existir...).
Alguém disse que a população do Algarve quintuplica cada vez que o Verão nos visita. Creio que sim, é verdade. Creio não, tenho a certeza.
Avalio este crescendo de anormalidades malabarísticas efectuadas por condutores "de férias" (são piores que os vulgares condutores de domingo, pois esses, como o nome indica, conduzem só ao domingo) como uma prova clara da nossa imaturidade enquanto país onde existem estradas - estradas essas pagas por nós, e onde até nos deixam circular.
São como crianças (e muito mal educadas) atrás de um volante de um jogo da PS2, ou de um carrinho de choque da feira popular...sem respeito, sem regras, num jogo agressivo onde o que interessa é chegar primeiro. Só nunca percebi onde é que o dito instinto animal quer chegar primeiro. Ao hospital!? Às vezes, parece-me claro que sim.
Há que encher bem o peito de ar, e esperar que 5 vezes mais automóveis não indiquem préviamente mudança de direcção, 5 vezes mais condutores andem lentamente a passear pelas vias rápidas (de braço fora do vidro e pés no tablier) aproveitando a paisagem, o ar fresco e fazendo simultaneamente com que 25 outros condutores, atrás deste, lhe chamem nomes que não ouso reproduzir aqui e que o mandem vltar para a terrinha da senhora mãe deles... Que 5 vezes mais animais passem por nós sem nos tocar, que 5 vezes mais viaturas façam 5 vezes mais ultrapassagens estúpidas e suicidas, e que 5 vezes mais semáforos sejam desrespeitados.
Cinco vezes boa sorte, amigos!

Nota: Não escrevia aqui uma linha desde Novembro passado. Da terra do Tio Sam passo agora para a "nossa terra"... e deixo no ar a questão: será que este Tio Sam não é já tio de meio-mundo?!