Pousada Primavera



Regresso à terra encantada da comida maravilhosa, gente boa e carnaval.



É verão e supostamente o tempo seria fantástico - afinal estou no Brasil, né? Não. Na verdade a temperatura é bem agradável, o ar tem uma humidade que não deixa ninguém (nem nenhum poro), indiferentes. E chove. Chove todos os dias, e com uma incidência especial na parte da tarde, especialmente nos dias em que a manhã é especialmente quente - chamam-lhe "verão de São Paulo".



Fugindo da energia desmesurada desta imensa metrópole, deixando avenidas, viadutos e bairros residênciais gigantescos para trás, dirigimo-nos para o interior - destino: Piedade.



Sol, humidade e chuva ocasional (na verdade diária) repetem-se. Num ambiente totalmente "zen", entre colunas de árvores, vários lagos e num vale repleto de verdejante natureza... eis que surgem coloridas e alegres, acolhedoras e simpáticas, cabanas de madeira semeadas pelo morro. Cada casinha tem a sua cor, e em redor de cada uma, as árvores e plantas endémicas abundam. Palmeiras de um verde vivo fazem companhia às buganvilias coloridas que alegram a paisagem e me fazem sentir calmo e feliz.



A Pousada Recanto Primavera tem um encanto próprio, que vai além das charmosas casinhas de madeira humildes no recheio mas agradáveis no convívio. A cozinha apresenta um festim diário de deliciosas comidas típicas da região produzidas conforme os costumes dos autóctones, com fogão a lenha e abundância de frutas de uma qualidade, doçura e riqueza típicas. As sobremesas são totais crimes contra a manutenção de uma alimentação regrada e saudável, e são apenas ultrapassadas pela simpatia de todo o staff, prestáveis e prontos a cumprir cada capricho de um hóspede.



Seria excelente voltar, e embora faltem ainda uns dias para a minha partida, já "estou sentindo saudades desse lugar"...









A CIDADE-ROMÃ



Sempre ouvi dizer que devemos sempre regressar aos locais que nos fizeram anteriormente felizes. Voltei em 2011 à cidade andaluza que mais admiro e recordo, que mais boas sensações me provoca e que sempre recordo com alguma melancolia.

A cidade da Romã (Granada, em castelhano), é actualmente uma das importantes cidades da Andaluzia, região Sul da vizinha Espanha. Com a sua imensa herança árabe, esta é uma cidade viva, na verdadeira acessão da palavra – a população tem crescido nos últimos anos, o aglomerado urbano é agora bastante extenso. Depois de atravessarmos a densa muralha de novos edifícios de habitação, negócios e mesmo alguma indústria e muito comércio… eis que se abre a verdadeira “romã”. Muitos edifícios que remontam aos anos 40 e 50, muitas igrejas e praças, e um sem-fim de construções de origem árabe mostram-nos com muita elegância e alguma mística, que por estas paragens muitas culturas se fizeram valer, e deixaram claramente a sua marca.

Uma dessas marcas são os ainda famosos banhos árabes. Uma tradição com muitas centenas de anos, que subsiste não apenas nos panfletos turísticos da região, mas também nas pessoas, nos hábitos e vivências locais. É possível encontrar estes banhos em vários hotéis, e existem locais onde sob marcação podemos aceder a esta experiência. Altamente recomendável, fazer parte deste mundo subterrâneo, onde as águas, vapores, cores, cheiros e sons são tão únicos, é sem qualquer dúvida, uma experiência a repetir. Banhos Hammam - estas foram horas intensas nas sensações, e fortes para o corpo – águas quentes, muito quente e frias, massagem e chá… de forma aleatória e de acordo com “a vontade”.

O facto de ser local de residência de várias instituições universitárias de grande importância nacional, faz com que se sinta no ar uma cultura jovem, de alguma forma efervescente nas ideias e nas atitudes – e que se mistura com a população local que embora seja sem dúvida alguma, orgulhosamente andaluza, deixa no ar um cheiro a cultura, hábitos e crenças árabes. Esta, como outras misturas, faz desta gente uma excepção, torna-os de alguma forma únicos, especiais. É fácil encontrar gente simpática, hábil na comunicação e até aberta ao diálogo com os visitantes, na sua maioria não falantes da língua local.

Alhambra. Esta é a incontornável maravilha que Granada exibe no alto, esplendorosa e imponente. Trata-se de uma sucessão de construções, muralhas, palácio, castelo e muitos e variados jardins, em que em cada canto se descobrem novas cores, flores, pequenos lagos, sebes ou corredores e escadas em ambientes que variam entre o romântico e o militar. Um local de culto, imperdível para quem visita a cidade, e obrigatório para quem tem a pretensão de conhecer a cultura e história andaluza.

E por falar em incontornável, há que mencionar as famosas tapas de Granada. Sem ser marcadamente diferentes das tapas que podemos encontrar um pouco por todo o lado em território espanhol, as tapas de Granada são diferentes. Em qualquer lugar da cidade, desde que exista um balcão e um ou dois bancos, existem tapas. E como é habitual existem menus de tapas. Mas a melhor e mais genuína experiência que posso recomendar nesta cidade, é pedir apenas uma “caña” num destes locais. Junto com a sua cerveja, virá uma pequena tapa, que é sempre uma surpresa. E é assim, cerveja após cerveja, tapa após tapa, e sem pedir, poderá saborear as mais diferentes formas de prazer dentro de um pequeno prato.

Deixei a “cidade-romã” mais uma vez, mas desta feita com uma sensação mais familiar – vi mais, vi com mais tempo, vivi com mais intensidade e com mais “olhos” do que antes. Sinto que agora faz mais parte de mim, e da minha própria história. Se sinto vontade de voltar? É claro que sim!!!!

Tirol




MONTANHAS. Montanhas imensas, perdidas entre vales enormes que fazem aparecer novas montanhas atrás de cada curva enrolada, cada rampa contorcida, cada escarpa cinzenta. São lindas as paisagens que se me apresentam a cada quilómetro, são extraordinárias as curvas das estradas, e a luz e contra-luz que se vê, sente e aprecia ao virar de cada cruzamento, ou desvio.

Sempre tive curiosidade e finalmente cá estou – no Tirol. Não se avistam “Heidis” por aqui, mas as paisagens carregam-nos ao colo de uma forma quase imediata – as cabanas da montanhas, as pastagens, as elevações gigante de terra com o seu pico branco e brilhante… e as vacas, cabras e outras personagens que se tornaram parte do nosso imaginário. (refiro-me neste parágrafo à geração que viveu as aventuras de Heidi e Pedro como se fossem suas, falo de quem ainda se lembra de ver séries fantásticas onde as armas, perseguições de automóveis e tiroteios ainda não eram obrigatórios…)

De tudo o que vi, dos mais de 1000kms de estradas, de estradinhas, de cidades e pequenas vilas, de passagens de alta montanha e de pontes sobre rios gelados e pequenas lagoas… Um local vai ficar colado na minha memória – arrisco a dizer – para sempre.

Lech é uma terrinha pequena, bem cuidada, arrumada e fantasticamente mantida. Cada casa, cada hotel, restaurante ou casa de hóspedes foi cuidadosamente “colocada” no local ideal. Não há por estas bandas as aberrações habituais dos locais ditos evoluídos, mas durante a minha visita, tive a sensação constante de estar entre seres muito inteligentes – afinal, sabem da importância de manter as coisas no seu lugar, de preservar o tradicional, de manter a maior harmonia possível com o meio que os rodeia, e de fazer tudo isto com uma naturalidade que apenas nos faz pensar (ainda mais) se existirão alguns seres desta linhagem pelas nossas localidades natais…

Um local lindo, único. Um sítio onde quero voltar, onde seria feliz certamente. Onde me senti, muito curiosamente, em casa.

Costa Esmeralda


Final do verão. Dias menos quentes, água mais fria...
Voámos rumo ao incerto, pelo menos no que à meteorologia diz respeito.


Chegados a Sardenha, foi tempo de explorar o território envolvente. Trata-se de uma ilha de encantos profundos, mas simples. Sem recorrer demasiado às habituais ferramentas da industrialização e globalização turísticas, a Sardenha consegue cativar com as suas "armas" naturais. Relativamente pequena, esta região esconde em si muitos recantos deliciosos, cheios de paisagens que nos enchem o peito de felicidade.
As praias são na sua grande maioria limpas, com águas quentes e areias grossas que nos massajam os pés... e o azul destas águas faz sonhar até o menos aventureiro visitante. Este é um sítio que reúne turismos de classes diferentes, pois nem só de praia vive a região. As suas montanhas atraem pela sua grandiosidade e natureza "ainda" bastante selvagem. As estradas que atravessam a ilha são recortadas, estreitas, e mostram-nos o caminho de uma forma hesitante. Fazem as maravilhas dos condutores mais ávidos, e de centenas de motociclistas que se perdem pelo emaranhado de troços alcatroados que rodopiam pela serra acima, e abaixo.
Costa Esmeralda é a zona mais famosa da Sardenha, onde os mais endinheirados turistas passam as suas férias de verão. Muitas caras conhecidas, vedetas da televisão e do cinema, iates e veleiros, carros desportivos de alta cilindrada e mansões, hotéis e resorts vários podem ser encontrados um pouco por toda esta vasta área. No entanto, o que mais impressiona, são as paisagens. Praias lindíssimas rodeadas de montanhas, vegetação abundante e nalgumas zonas, escarpas altas que se elevam rumo ao céu.


Feria de Sevilla


Abril, mês de águas mil, diz tradicionalmente o povo. O nosso povo. Mas aqui bem ao lado, o povo desta grande e muito activa cidade, os sevilhanos dizem: Abril, mês de la feria!

Trata-se de uma experiência fantástica, onde podemos conhecer o poder da igreja neste país, mas acima de tudo o valor que a população dá à tradição. Tudo passa pela fortíssima tradição cultural, enraizada de forma profunda nestas gentes. Durante esta semana, anualmente, todos os membros desta grande comunidade vestem literalmente as roupas dos seus antepassados, e agem como tal. Não há vergonhas, modas, tendências ou recusas perante o antiquado, demodé ou old fashion. Desde tenras idades, e até à mais ansiã membro da família, todas as mulheres vestem os tradicionais vestidos sevilhanos, com formas longas e tecidos rendilhados, cheios de cor e movimento. Estes vestidos não se repetem no decorrer da festa, assim dita a tradição, e nada enche mais de orgulho avós, pais, maridos ou namorados, que ver as "suas mulheres" sempre no seu melhor. Os homens vestem calças clássicas, camisas, gravatas e casacos de cerimónia. Ninguém, sem excepcção, sai à rua sem o fazer efectivamente no seu melhor.

A Feria de Sevilha respira um ambiente de festa, de cultura, de tradição e de diversão que nunca encontrei, de forma tão condensada, pura e viva, em lado algum. São ruas intermináveis, avenidas longas, e muitas, muitas "casetas", num total de 4200. As "casetas" existentes nesta festa tão única, tão especial, tão sevilhana, são espaços onde se come e bebe (muito, e muito bem), e onde a admissão é reservada a convidados ou sócios. Aqui quem é convidado é rei. A mesa está sempre cheia, pratos vários de tapas típicas, e jarros, copos, garrafas de bebidas várias enchem insistentemente as mãos de qualquer convidado.

Uma palavra final para o "Rebujito". Uma bebida que jorra aos litros durante estes dias nesta festa, é na verdade uma mistura de vinho Manzanilha com refrigerante gasoso, servido em jarros com gelo abundante. Resfrescante, doce e enganadoramente fraca, esta bebida acaba por derrubar até os figados mais fortes. Diz-se que os antigos a bebiam pura.

Havaianas e cachecol


Chegou a Páscoa, essa altura do ano em que as famílias se voltam a reunir, em que as refeições, ao bom e velho hábito tuga, se engrandecem, e se alargam no tempo e no espaço. Almoços ou jantares, sempre longos e exagerados, onde as famílias celebram...a Páscoa. As crianças esperam as amêndoas doces, e os ovos de chocolate. Todos cumprimos a nossa parte da "tradição", sendo que alguns aproveitam este intervalo laboral para visitar as nossas praias pela primeira vez no ano, como que em romaria religiosa dos amantes mais fervorosos do verão.

Ou então não. Dizem as estatísticas que o Algarve é um dos principais destinos dos portugueses (e não só), durante a época pascoal. Na procura do bom tempo, do tão aclamado sol de Abril que costuma brindar os visitantes deste território à beira-áfrica plantado, vemos as ruas com mais gente, os hotéis, restaurantes, discotecas e bares, esplanadas e praias com as primeiras visitas "de grupo" de um verão que ainda está longe, mas que é esperado com ânsia e excitação.
E são esta ansiedade e excitação que levam ao re-aparecimento das primeiras chinelas de praia. Chinelos, chanatas, socas, sandálias e as primeiras alças e calções começam a desfilar pelos centros das cidades algarvias durante estes dias.

Mas, porque o nosso sol nem sempre cumpre o prometido, e porque os dias, agora mais generosos na sua luminosidade e duração, ainda não nos dão aquela temperatura acertada - aquela que nos faz lembrar a praia todos os dias, a todas as horas... Esses dias de reduzida indumentária, de despreocupação com a descida de temperatura do anoitecer, ainda tardam.
Por isso parte dos "modelitos" deste final de semana de Páscoa, juntam com relatica harmonia as habitualmente coloridas Havaianas, com o mais inesperado dos cachecóis...

The Inauguration


Novo ano, e mais uma visita de cortesia ao sr Sam, o tio de todos nós.
A Califórnia mostrou-se mais quente do que o que seria de esperar, este inverno é também por aquelas paragens incerto, e o frio das últimas semanas foi violentamente afastado por dias de sol brilhante e intenso nas horas mais esperadas. The fabulous Californian weather, they say!

Trata-se também de uma época histórica. O novo presidente, revolucionário na raça, energético na atitude e prometedor nas suas promessas políticas, vai tomar posse por estes dias. E eis que jornais, revistas, noticiários e programas triviais passam incansavelmente a sua imagem, dia e noite. As suas preferências, a sua história, o seu passado, presente e futuro, a sua família, as suas relações, os seus hábitos e costumes mais comuns, mais mundanos, mais banais...passam a fazer parte de qualquer horário nobre ou programa de final de madrugada radiofónica. Mais que uma tomada de posse, trata-se certamente de um dos mais, se não o mais importante dos eventos. Move multidões, congela o tráfego, a nação pára para ver a passagem de testemunho - The Inauguration, é como lhe chamam os nativos.

A esperança vive por estes dias uma vitalidade muito superior à normal por este continente nortenho, e a população reune-se em êxtase para ver o seu novo presidente. Músicos fazem a cerimónia ganhar mais cor, e mais veracidade, ou não se tratasse tudo, afinal, de um espectáculo muito bem orquestrado. Vivem felizes os nossos primos, e o Tio Sam sorri perante a positividade da nação. A importância deste acontecimento teve até direito a que o sol brilhasse fora de época.